Visão de Negócios – Dr. Cadri Massuda, Clinipam

Nesta edição conversamos com Dr. Cadri Massuda, diretor executivo da Clinipam, operadora de plano de saúde paranaense, que foi adquirida recentemente por meio de uma operação de aquisição societária pela gigante Notre Dame.

News KM: Essa operação de aquisição de participações societárias foi um grande acontecimento no mercado de plano de saúde no segundo semestre. Poderia nos detalhar, dentro dos limites da confidencialidade, o que aconteceu exatamente entre a Clinipam e a Notre Dame?

Dr. Cadri: A Clinipam vislumbrou a necessidade de um projeto Nacional, para isto se uniu a Notre Dame Intermédica, empresa que atende todo o Brasil. O projeto é sermos fortes na região Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Portanto, deveremos sondar novas aquisições de carteiras e Hospitais. Já que somos um modelo verticalizado, onde os principais prestadores (médicos, laboratório e Hospitais) são de propriedade da operadora. Esse modelo faz com que tenhamos um preço bastante competitivo em relação a outros modelos de saúde.

News KM: O mercado de planos de saúde e de saúde no geral no Brasil é extremante vigoroso e cresce vertiginosamente. Qual a sua leitura sobre o potencial da medicina privada e da pública e como operações complexas como a da Clinipam dão sinais para os próximos cenários futuros no segmento?

Dr. Cadri: A medicina vem evoluindo muito nos últimos anos, desta maneira tem provocado o aumento da longevidade da população. No Brasil, a média de vida era de 64 anos. Hoje, já ultrapassamos os 75 anos. Este avanço advém da evolução que a medicina vem proporcionando através de novos medicamentos, biotecnologias, terapias genética, imunoterapia, terapia de células tronco, procedimentos que aumentarão ainda mais a longevidade da população. Mas isto tem um custo, que tem sido em todo o mundo geralmente o dobro da inflação do país. Como dizem os empresários da área de saúde, as pessoas acabam trabalhando mais para gastar em saúde. Portanto, o cenário futuro será o aumento de pessoas portadoras de plano de saúde. No Brasil, temos 25% da população que possui cobertura assistencial através de planos de saúde e 75% não tem esse benefício e são atendidos pelo SUS. Vale ressaltar, que a saúde privada gasta mais com os 25% (beneficiários do plano) do que o sistema público com os 75% da população, denotando que o sistema público não consegue acompanhar o crescente aumento do custo médico hospitalar. A saída será o incentivo para que a população use a rede privada de saúde para que possa desonerar o setor público.

News KM: Quais são as maiores dificuldades operacionais que uma operadora de plano de saúde enfrenta no Brasil, levando em conta todo o ambiente regulatório, jurídico e econômico?

Dr. Cadri: Sem dúvida, existem dificuldades enfrentadas no setor, principalmente na judicialização da medicina. Todas as operadoras são regidas pela ANS e existe um rol a ser coberto, cujo rol é analisado por atuário que formata o preço do produto. Quando o judiciário se interpõe nessa questão, provoca desequilíbrio econômico/financeiro na operadora. Há também os novos medicamentos, principalmente oncológicos, que surgem com preços absurdos, o que torna inviável para as pequenas operadoras cobrir estes custos. Outra questão é o engessamento dos produtos que faz com que uma parcela privilegiada tenha acesso aos planos de saúde, enquanto grande maioria da população não consegue arcar com os valores dos planos porque não existe flexibilidade da ANS em relação a esse tema.

News KM: Qual a sua leitura sobre a importância da assessoria jurídica, tanto em operações mais complexas como estas de M&A, quanto nas mais operacionais relacionadas às atividades meio e fim das operadoras de plano de saúde, para a manutenção de uma operação saudável, previsível e perene como a da Clinipam?

Dr. Cadri: Nos últimos anos, o setor jurídico tem acompanhado cada vez mais as empresas de assistência médica. Em vista da judicialização, dos processos civis, trabalhistas e criminais, onde o setor jurídico tem presença importante para auxiliar na solução de problemas e principalmente na contratual, que este setor exige.