Nesta edição conversamos com Diego de Paula, gerente jurídico da Portonave S/A – Terminais Portuários de Navegantes que fala sobre os desafios do setor e a importância de um trabalho jurídico integrado com as demais áreas de gestão para o sucesso do negócio. Confira a entrevista.
News KM: A Portonave S/A – Terminais Portuários de Navegantes é um projeto que nasceu no Brasil como o primeiro terminal privado de contêineres. A operação iniciou em 2007. Passados 12 anos, hoje como um dos maiores movimentadores de contêineres, qual é a sua avaliação atual sobre o negócio da empresa?
Diego de Paula – A Portonave é um modelo inovador de negócio no segmento logístico, sendo considerado “disruptivo” por alguns. Isto porque não se imaginava, e algumas pessoas ainda têm dificuldade de conceber, um terminal portuário privado competindo de igual para igual com os terminais de uso público sem estar submetido a uma autoridade portuária, dentre outras questões.
Para viabilizar o terminal, foi necessário desenvolver muitas soluções do zero, pois o modelo era totalmente novo, por exemplo: não temos “tabelas públicas de preço”, temos contrato privado com os clientes, não utilizamos mão de obra avulsa por meio do OGMO, nossos colaboradores são todos vinculados. Enfim, foram necessárias muitas inovações, muito pioneirismo para colocar o projeto de pé.
Hoje a Portonave é um negócio absolutamente consolidado. Falando da “porteira para dentro” temos indicadores comparáveis aos melhores terminais portuários do mundo, tanto em produtividade, segurança e excelência no atendimento aos clientes. Somos líderes de mercado no Estado de Santa Catarina há 10 anos. Em 2013 a Portonave foi o primeiro terminal da América Latina a conquistar o prêmio de operador destaque mundial pela Lloyd’s List (a Lloyds é uma revista inglesa altamente especializada e renomada no setor), além de determos o recorde Sulamericano de produtividade com 270,4 movimentos por hora na operação de um navio da CMA-CGM (padrão de excelência operacional fica na casa dos 100 mph).
News KM: Para melhorar as atividades, o negócio e a economia, quais são os principais investimentos em infraestrutura que precisam ser feitos para melhorar a operação logística?
Diego de Paula: Aqui falamos da “porteira para fora”. Os entes privados que administram os terminais, tanto de uso público (arrendados) como os privados, têm feito pesados investimentos na modernização e aumento de capacidade das suas instalações. Por este motivo, atualmente pode-se dizer com toda certeza que não existe mais “apagão portuário” ou deficiências na ponta, no terminal. Todavia, os terminais portuários brasileiros sofrem com a falta de infraestrutura dos acessos aquaviários e terrestres.
Quanto ao acesso aquaviário, falando da Portonave, é imprescindível a conclusão da bacia de evolução e dragagem de aprofundamento do canal de acesso, que são de responsabilidade do poder público e, sem os quais, independente dos investimentos que façamos no terminal, ficaremos impedidos de receber os maiores e mais modernos navios que estão na costa brasileira.
No que tange ao acesso terrestre, quando de sua instalação a Portonave doou ao Município de Navegantes a Via Expressa Portuária, via duplicada, iluminada e urbanizada ligando o terminal à BR 470. Todavia, as obras de duplicação da 470 já estavam em curso quando instalamos o terminal se arrastam até hoje, há mais de 20 anos sem conclusão.
São mazelas com as quais temos que conviver e, para tanto, mantemos sempre contato com os entes públicos no sentido de colaborar da melhor maneira possível para a mais rápida conclusão destas obras.
News KM: Qual a relevância do setor jurídico do porto como área parceira do negócio?
Diego de Paula: A ideia é esta mesmo, é ser de fato um parceiro do negócio, percebendo que a assessoria jurídica deve ser um apoiador das iniciativas da companhia. Quando ingressei na Portonave em 2011 fiz questão de ir a todos os setores fazer um diagnóstico com os gestores para identificar como a assessoria jurídica poderia auxiliar para o desenvolvimento da companhia. Disso tiramos muitas lições e criamos grupos de trabalho que se mantêm até hoje com foco preventivo e de aproximação com a ponta do negócio sem encastelamento. Além disso, desde o início, respeitamos algumas diretrizes básicas: nos atemos aos valores da companhia, sendo o primeiro deles o integral cumprimento da legislação e evitamos ao máximo dizer “não”, o foco é o “como”, informando ao gestor o eventual risco envolvido.
News KM: Os empreendimentos portuários representam uma amplitude também de mão de obra. Quantos trabalhadores são empregados hoje nas atividades e quais os desafios que enfrentam na gestão das relações trabalhistas?
Diego de Paula: A Portonave e Iceport (subsidiária) têm aproximadamente 1.010 colaboradores diretos e 3000 indiretos. Uma das grandes inovações na forma de se pensar o terminal foi com a vinculação integral da mão de obra operacional, em outras palavras, fomos o primeiro terminal movimentador de contêiner a ter 100% da mão de obra celetista. Assim, pensamos como indústria e não como “porto”, assim nos livramos das amarras de alguns conceitos arcaicos do trabalho portuário.
O maior desafio que reputamos vencido é o de estabelecer no terminal portuário esta relação trabalhista com vínculo, subordinação, metas, meritocracia e melhoria contínua.
Prova do sucesso desta inciativa é que temos um nível baixíssimo de turnover e de reclamatórias trabalhistas, fruto de um trabalho de excelência de toda a equipe de gestão.